Uma segunda chance.

Novamente as reflexões e as promessas de início de ano. Excelente momento para verificarmos erros e acertos. Espero que não esteja acontecendo com você, mas é comum nos momentos de reflexão – que amiúde acontecem apenas depois de tomarmos atitudes impensadas – que sobrevenham os arrependimentos e, em sequência, o desejo de obter uma nova chance para se retratar ou, pelo menos, o comentário: “se eu soubesse que daria nisso, teria agido diferente…”

Alvíssaras! Um passarinho me contou que todos têm uma segunda chance. Sempre! É só invocá-la e, pluft – como diz uma amiga – o tempo volta atrás e a cena se repete tal e qual, oportunizando uma nova atitude, uma nova resposta, um novo comportamento de nossa parte.

Ora que bobagem – dirão alguns – eu nunca soube disso!

Você não percebe a segunda chance porque existem regras para que isto ocorra: 1) O tempo só volta se o arrependimento acontecer imediatamente. 2) A lembrança do anteriormente ocorrido se apaga, abrindo um novo marco zero de reinício, como se fosse a primeira vez: sem sombra de memória, sem qualquer lembrança do episódio acontecido.

Muitos reclamam justo deste detalhe: Gostariam de ter em mente o evento anterior, como forma de aprendizado. Mas, assim seria demais, não? Sempre inconformados, sempre querendo mais. A boa nova de que temos uma segunda chance não é o bastante? Queremos poder errar à vontade e depois refazer, a nosso prazer.

Não funciona assim. Nunca sabemos quando estamos vivendo a segunda chance, devido à regra – sábia regra – do esquecimento.

É também a falta desta lembrança que faz com que as pessoas me chamem de louco quando lhes conto esta boa nova: louco, dizem alguns, sonhador, falam outros. Mas esta é a realidade. O “passarinho” que me contou é fonte fidedigna.

Funciona assim: Depois de um acidente de trânsito, por exemplo, as pessoas discutem por banalidade. Cada qual quer ter a razão. Ninguém quer sair perdendo. O prejuízo é sempre avaliado exponencialmente. De repente, uma das partes envolvidas apanha uma arma e dispara. O outro cai mortalmente ferido. Neste momento, em geral, ouve-se: “Ah, se eu soubesse não teria feito isto” Arrepender-se passa a ser comum aos dois protagonistas e estende-se aos circunstantes. “Se eu pudesse voltar atrás, não repetiria o erro.”

Às vezes são situações menos impactantes, porém, com o mesmo direito à regra da segunda chance, por exemplo, quando ofendemos alguém com palavras, quando se magoa a outrem ou quando tomamos qualquer atitude impensada e intempestiva, baseada na emoção, sem qualquer racionalidade.

Seja qual for a situação é só pedir e “pluft”, há um retrocesso no tempo, apaga-se a memória recente e entramos novamente no cruzamento da rua. É hora de evitar o acidente, sob a melhor ótica, ou de, em outra perspectiva, evitar a discussão, entrar em acordo, fazer amigos e sair do episódio, não apenas ileso, mas fortalecido.

É hora de não dizermos a primeira palavra ofensiva que venha à mente. É hora de não bater no filho, de não falhar no compromisso assumido, de estudar – em tempo – para uma avaliação escolar ou para um concurso etc.

Mas lembre que você passou pela regra do esquecimento, logo, considere como possibilidade: o quê vai acontecer daqui a um instante pode ser uma repetição – sua segunda chance. Aproveite-a! Já pensou, incomodar todo o astral para invocar seu direito em vão? Não perca sua segunda chance.

Ao entrar num cruzamento, observe com atenção; pode ser que há menos de cinco minutos você tenha passado por este caminho, tenha se envolvido em acidente e tenha, em desespero, pedido uma segunda chance. Agora, você vai atravessar o cruzamento pela segunda vez. Adote extremo cuidado. Não vá se envolver “novamente” em acidente.

Antes de trocar farpas com as pessoas de seu relacionamento, sejam familiares, amigos ou no trabalho, no trânsito, no comércio etc., pense que você pode estar vivendo pela segunda vez este momento, justo pela oportunidade de refazer um mal entendido anterior, de ser menos ofensivo, de ser mais amigo, mais participativo, alegre, cidadão, ou seja lá o que de melhor você possa fazer, ser ou representar para o outro.

Aí está uma excelente filosofia de vida para exercitar no ano que se inicia. A cada momento, em cada decisão e atitude, pense – e torne parte de seus hábitos pensar assim! – que esta pode ser a segunda vez que aquilo está lhe acontecendo, lhe garantindo a oportunidade de fazer melhor.

Racionalize, conte até dez, se reposicione. Seja mais tranquilo, mais amigo, mais pai e mãe, não se envolva em discussões tolas, seja superior às vicissitudes e às provocações.

Não dê chance ao acaso. Faça tudo com compromisso de tornar a vida melhor. Esta pode estar sendo a sua segunda – é última – chance. Isto pode lhe garantir um feliz ano novo.

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