Qualidade: quem perdeu mais com a pandemia?

Os estragos causados pela pandemia repercutem em todos os setores da sociedade e da vida privada. As perdas e danos computadas no exato momento da ocorrência são ainda menores do que as que somente serão sentidas daqui há alguns anos, tal como a saúde mental das crianças e dos jovens mantidos em confinamento, ou a chegada ao mercado de uma geração que perdeu um ano de estudos (conversa mole dizer que está sendo recuperado) e ainda está sofrendo com a adoção do ensino remoto sem o devido preparo de professores, de equipes pedagógicas e de disponibilidade tecnológica nas duas pontas: escola e lares.

As perdas econômicas são as mais choradas e disputadas entre os diversos setores. É um dos poucos campos onde cada um quer ter a “primazia” de ser o maior perdedor.

Mas há uma perda com a qual tentamos nos acostumar e sequer reclamamos, como se estivéssemos tolerando por não haver alternativa: a qualidade da transmissão e da disponibilização de programação da TV, sobretudo da chamada TV aberta.

Involuímos cerca de três décadas.

Mal nos acostumamos com a apurada definição de imagem e som da TV digital e da transmissão em HD e já temos que nos conformar com a péssima qualidade das transmissões pela Internet com imagens de definição idênticas às da década de 1970; sons incompreensíveis e metalizados, como nas narrações internacionais de jogos das copas do mundo dos meus tempos de criança.

Aqui não dou cabimento para discutirmos as causas dessa involução: eu sei delas. Também não vale apontar o “avanço” da Internet como diferença tecnológica em ralação à radiofonia: eu também sei como funciona; mas é inegável que (ainda) é muito ruim. Reconheço que é o que temos para o momento. Mas não me permito o conformismo sem pôr a boca no trombone para reclamar. Reclamar muito.

As emissoras, seus repórteres e cronistas, que assumem a postura de instigar os empreendedores a “se reinventar”, nada fizeram para buscar melhor padrão para o telespectador ou assinante. Ao contrário, aproveitaram a onda para economizar impondo um péssimo padrão de imagem, som e programação.

Sim! De programação também. A precarização dos programas repetitivos chega ao despudor de reapresentar programas de caráter jornalístico de meses ou anos atrás. De vez em quando nos deparamos, em plena secura, com imagens de rigorosos invernos com barragens transbordantes sem que nenhuma tarja informe – on line – que se trata de repetição. Muitas vezes somente na abertura aparece a informação de que se trata de “programa exibido há um ou dois anos atrás”.

Curioso e patético é ver uma imagem congelar, o som desaparecer e um apresentador de estúdio comunicar com cara deslavada: “Tivemos um probleminha na comunicação”. Ora tenha paciência. “Probleminha” seria um ruído branco ou um breve “congelamento” de imagem. Mas, quando o objetivo do negócio é proporcionar imagem a distância (tele-visão), perder o link é entrar em total disfunção.

Perdoo as famigeradas “lives”. Afinal, são muitas vezes pessoas comuns utilizando a tecnologia que dispõem. Mas os grandes conglomerados de TV, se não têm vergonha dessa infâmia, tenho eu, vergonha deles e do nosso silêncio ao aceitarmos pagar por isso. Nós temos que nos indignar. As emissoras, que se reinventar (ou ao menos se envergonhar).

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